segunda-feira, 25 de abril de 2011

A uma flor...








                                
Rosa negra


Ao percorrer um jardim exposto na rua
Uma rosa negra atraiu meu vago olhar
Pétalas escuras que reluziam com o brilho da lua
De uma forma especial conseguia se destacar

Não era igual às outras flores, criadas
Para se tornarem cópias igualadas
Baseadas num modelo imposto de beleza

Modelo esse de beleza artificial e destrutivo
Homogenizando as flores num grande ciclo repetitivo
Distorcendo a diversidade da própria natureza

Mas para meu espanto, no olhar de outras pessoas
Aquela rosa não era tão bela quanto eu dizia
Pois nesta linda negra rosa não havia
As propriedades padronizadas de uma beleza insossa

Tolos de visão embaçada pela mediocricidade
Enxergam apenas com suas pupilas gastas
Pois a beleza externa se apodrece com a idade
E belezas repetitivas enojam por serem forçadas

E quando a beleza preenche o ser interior
Ela ocupa até os recôndidos da célula
Essa beleza extravassa para o ser exterior
Deixando mais belo o que antes já era

Diferente de certas flores que exalam chorume
Ó rosa negra, tu liberas um magnífico perfume
E isso me faz declarar com o mais puro afeto
Que o diferente é que é deliciosamente belo!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Existem dias...

... em que não estamos nada bem.


Espelho

Apenas mais um verme
No meio de tantos outros vermes
Rastejando na imundície da hipocrisia
Se alimentando da mentira e mesquinharia
Que se espalha aqui como uma herpes

Um sentimento de ser diferente
Pode da alma querer emergir
Mas os esforços no âmago da mente
Se dissipam como um castelo de areia a ruir

Pois mesmo com toda a força investida
Para da lama fétida poder se afastar
A imundície parece estar intrínseca a vida
E como um esgoto a céu aberto infesta o ar

Assim me sentia, após acordar
Penteando de modo lúgubre o cabelo
Vendo o horrendo reflexo de meu rosto
Um verme se olhando no espelho

terça-feira, 12 de abril de 2011

Álcool


Interessante como o álcool está presente em quase todas as culturas. Seja a vodka para os russos, saquê para japoneses ou cachaça para brasileiros. E não importa classe social (hehe, me lembro quando era um universitário liso e só bebia São Brás, cachaça, batida e afins). O álcool pode ser um bom companheiro, mas é bom lembrar que é você quem deve dominá-lo, não o contrário. Não respeitar seus limites é que o torna, por muitos, culpado de destruir lares e matar inocentes em acidentes de trânsito por exemplo.



Inconsciência etílica

As mazelas da vida o fazem chorar
E a sua consciência ele quer anular
Coragem quer ganhar para o que antes não faria
O vício que lhe atormenta em pleno raiar do dia

Enquanto a natureza apodrece e cria
O homem com sua sede vem e destila
Para o completo domínio e nostalgia de baco
Em todos os lugares nós temos o álcool

Beber uma dose só para o corpo esquentar
Beber mais algumas só para a corte realizar
Beber muitas outras para o problema esquecer
Continuar bebendo simplesmente por beber

Na inconsciência etílica navegar e voar
Para nas horas seguintes geralmente estar
Enojadamente regurgitando o líquido viscoso
Misturando em sua boca a saliva e o vômito
Lavando esse sistema com mais e mais álcool
Dormindo sobre os rejeitos a pouco liberados


O próximo eu dedico a um grande irmão. Para os momentos nos quais ele sabe a que me refiro.


Na taverna

Levante seu odre, ogre
Vamos brindar nesta noite tão esperada
Deixe no esquecimento essa batalha perdida
Mesmo que dela só tenha restado uma espada partida
Sua honra muito em breve será restaurada

Beba! Sinta o sabor e olhe para os lados
Aprecie essa majestosa canção dos bardos
Elfos, anões, gigantes e neandertais
A alegria dessa bebida nos faz todos iguais

Levante seu odre, ogre
Nem um só gole de vinho será desperdiçado
Vamos beber, brigar, gritar e sorrir
Quem não agüentar nessa taverna já pode cair
Na embriaguez tu estarás acompanhado

Uma gloriosa batalha nos espera
Tesouros nunca antes vistos nessa era
Na ansiedade dessa guerra eu brado num grito forte
Levante seu odre, ogre!

domingo, 10 de abril de 2011

Primeiro, e último.


Como esta é a primeira postagem, resolvi começar do começo (não diga...). Comecei a escrever esporadicamente há cerca de 10 anos, e acredito que este seja um dos meus primeiros poemas.



Círculo vicioso

Quem eu quero não me quer
Quem me quer eu não quero
Quem eu quero quer alguém
Que não lhe quer

O que quero os outros têem
O que tenho eu não quero
Os outros querem o que tenho
Ninguém tem o que quer

É insatisfação
É desgosto
Girando como esfera
Um círculo vicioso

Sem trégua nem descanso
Sem paradas nem remanso
Só gira sem parar
Um movimento sem cessar
É o giro que nos faz tolos
Círculo vicioso


Logo em seguida, vem algo mais recente, que demonstra como me sinto agora...

 
Tédio

Tédio
Nessa minha posição estática
Ouço palavras vomitadas de quem se diz sábio
Reproduzindo máximas num tom de puro plágio
Me pergunto se essa mente não teria origem plástica

Tédio
Tudo parece estar irremediavelmente parado
O próprio tempo aparenta estar congelado
E o que me faz acreditar que não estou hibernando
É essa nefasta inquietação gradualmente me incomodando

Tédio
Os mesmos lugares, as mesmas pessoas
Parecem clones oriundos de bipartição
O mesmo discurso, a mesma ideologia
O problema será comigo então?

Me levanto, bocejo e penso
Para isso não deve haver nenhum remédio
O que sinto não tenho dúvidas, é o mais puro e denso
Tédio