terça-feira, 13 de setembro de 2011

Uma vontade


















Sumir

Sumir
Só por um minuto
Sumir
De todo esse absurdo

Não é fugir
Não é desistir
Não é deixar de enfrentar
É apenas sumir

Sumir por um minuto
Voar pelo infinito
Desintegrar-me para sentir-me puro
Reagrupar-me com Seu poder absoluto

Não quero fugir
Não quero desistir
Não quero deixar de enfrentar
Eu só quero sumir

Sumir
Só por um minuto
Sumir
De todo esse absurdo

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Promessas

Promessas

Mais um dia nasceu
Mais um passo se deu
Um passo para a perdição
Ou para a salvação
Nesses dias sem festas
Vamos fazer algumas promessas

Vamos prometer
Prometer entender
Prometer conversar
Sem se alterar

Vamos prometer amor
Prometer crescer
Prometer prazer
E não dor

Vamos prometer
Coisas muito boas
Coisas que podemos
Coisas que não fazemos

Promessas mentirosas
Que ouvimos toda hora
Promessas enganosas
Que nos levam à revolta

E quando pararmos
De tanto prometer
Vamos nos sentar
E parar para ver
Todo o mal que fizemos

E daqui para frente
Em vez de prometer
Vamos tentar ser
Gramas numa pastagem
Que pouco dizem
E muito fazem

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Estrelas, homens e mulheres






















Eu e as estrelas


Numa noite de estonteante beleza
Observei no céu uma brilhante estrela
Seu brilho ofuscava o mais polido metal
Brilho esse de uma força sem igual

Estrela brilhante eu quero te ter!
O seu brilho iluminou meu coração
Para tê-la, loucuras irei cometer
Ultrapassando assim as leis da razão

Enquanto admirava a estrela brilhante
Num acaso outra estrela pude ver
Possuía ela uma beleza exuberante
Beleza essa que igual não deve haver

Deixei de lado a estrela brilhante
A estrela mais bela virou minha atenção
Mudei a direção do meu rosto
Mudei o foco da minha visão

As mesmas promessas fiz
Mas a bela estrela não as aceitou
Então retornei à estrela brilhante
E ela também me rejeitou

Assim minha tola inquietação
Me fez ficar sem nenhuma estrela
Essa foi a minha lição
E a inconstância foi o meu problema

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Uma receita

Brasil com passas

Ingredientes:
1 país brutalmente colonizado
3 kg de gente corrupta
4 xícaras de um povo humilhado
2 colheres de sacanagem pura
½ litro de nação acomodada
Pequenas porções de uva passa

Modo de preparo:
Misture a gente corrupta
Com a sacanagem pura
Acrescente a nação acomodada
E o povo humilhado
Deixe tudo descansar
Com toda essa frieza
Que deixa qualquer um desacreditado
Coloque tudo no país brutalmente colonizado
Deixe o calor da indústria esquentar
E quando já estiver bem assado
Coloque a uva passa para enganar
Do mesmo modo que carnaval e futebol
Escondem o país que temos para mostrar

terça-feira, 17 de maio de 2011

Porque não falar de amor...
















Descrição cardiológica


Numa longínqua câmara que se esconde em meu corpo
Existe um artefato chamado meu coração
Há momentos em que ele se assemelha a uma quimera
Em outros não parece orgânico, e sim composto de pedra
Mas o sangue que o impulsiona é principalmente a razão

Ó quimera! Leão, águia e cobra constituem teu corpo
Leão por ser imponente na sua personalidade
Águia por amar a mais justa liberdade
Cobra por esconder um veneno mostrado a poucos

Coração de pedra a frieza é tua sina
Tu foste mineralizado por decepções e erros
Esse é o escudo que o protege de paixões impulsivas
E sentimentos que no fundo não são verdadeiros

Não sou averso ao sentimento
Muito menos a um sério e duradouro relacionamento
Apenas deixo minha racionalidade se superar
Pois se o coração se engana, sou eu o preço quem vai pagar

Mitocôndrias, plaquetas, mitose
Compartilham a função de regeneração
Mas nenhuma maravilha orgânica pode
Regenerar um ferido coração

Mesmo tendo inclinação à insanidade
Uma loucura sem propósito não cometerei
A maior das loucuras, amar quem não te ama
A quem me ama, a essa sim amarei


domingo, 15 de maio de 2011

Ódio


















Sede

Eu tenho sede de justiça
Minha boca seca pede água de juízo
Que venha uma torrente clara e limpa
Para lavar a sujeira deste mundo perdido

Não me permito ignorar tamanha situação
Meu sangue logo entra em ebulição imediata
Vendo porcos imundos portando uma gravata
Vomitando decisões ancoradas em corrupção

Pequenos pardais famintos roubam poucos feijões
E logo são brutalmente massacrados
Enquanto hienas trucidam inocentes e roubam milhões
E permanecem impunes com seus erros ignorados

Nada sou para querer alguém julgar
Minha mão e minha pena estão sujas de sangue
Porém minha alma se inquieta e não posso me calar
A revolta no meu peito parece ser uma constante

Ah! Como desejo que a justiça um dia
Venha como saraiva fulminante em nossos corpos
A injustiça se desintegre na frente dos meus olhos
E minha sede se aplaque como num gole de água fria

sábado, 7 de maio de 2011

Paradoxo









Paradoxo

Minha mente é um paradoxo
A ambigüidade me consome
Eu sou um verme, eu sou um herói
Eu sou simplesmente um homem

O que sou eu?
O que é você?
Simples átomos de forma complexa a se agrupar
Ou uma massa orgânica portando uma alma a sonhar

Bate, bate, bate
A sucessividade dos segundos
Bate, bate, bate
A morte se aproxima em ritmo mudo

É a transitoriedade da matéria
Que no final vira pó, barro e lama
Assim o que importa é o espírito
Seus valores são a sua esperança

A fragilidade do meu corpo deteriorado
É compensada pela força do espírito
O meu carbono pode um dia ter sido inanimado
Mas minha alma nasceu e continuará comigo

Eu só queria acreditar
No que não posso entender
E entender
Que certas coisas não irei saber
Pois só sei que o que eu sei
É um quase-nada por assim dizer
Então às vezes me pergunto
O que é realmente saber?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Vai-e-vem político



O povo e o político


Povo                                          político
Povo voto                                  político
Povo voto político
Povo                                  voto político

Povo                                          político
Povo dinheiro                            político
Povo dinheiro político
Povo                            dinheiro político

Povo                                           político
Povo justiça                               político
                               Povo justiça político
Povo raiva                imunidade político
Povo revolta                               político
                              Povo revolta político
                              Povo revolta sumiu!!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A uma flor...








                                
Rosa negra


Ao percorrer um jardim exposto na rua
Uma rosa negra atraiu meu vago olhar
Pétalas escuras que reluziam com o brilho da lua
De uma forma especial conseguia se destacar

Não era igual às outras flores, criadas
Para se tornarem cópias igualadas
Baseadas num modelo imposto de beleza

Modelo esse de beleza artificial e destrutivo
Homogenizando as flores num grande ciclo repetitivo
Distorcendo a diversidade da própria natureza

Mas para meu espanto, no olhar de outras pessoas
Aquela rosa não era tão bela quanto eu dizia
Pois nesta linda negra rosa não havia
As propriedades padronizadas de uma beleza insossa

Tolos de visão embaçada pela mediocricidade
Enxergam apenas com suas pupilas gastas
Pois a beleza externa se apodrece com a idade
E belezas repetitivas enojam por serem forçadas

E quando a beleza preenche o ser interior
Ela ocupa até os recôndidos da célula
Essa beleza extravassa para o ser exterior
Deixando mais belo o que antes já era

Diferente de certas flores que exalam chorume
Ó rosa negra, tu liberas um magnífico perfume
E isso me faz declarar com o mais puro afeto
Que o diferente é que é deliciosamente belo!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Existem dias...

... em que não estamos nada bem.


Espelho

Apenas mais um verme
No meio de tantos outros vermes
Rastejando na imundície da hipocrisia
Se alimentando da mentira e mesquinharia
Que se espalha aqui como uma herpes

Um sentimento de ser diferente
Pode da alma querer emergir
Mas os esforços no âmago da mente
Se dissipam como um castelo de areia a ruir

Pois mesmo com toda a força investida
Para da lama fétida poder se afastar
A imundície parece estar intrínseca a vida
E como um esgoto a céu aberto infesta o ar

Assim me sentia, após acordar
Penteando de modo lúgubre o cabelo
Vendo o horrendo reflexo de meu rosto
Um verme se olhando no espelho

terça-feira, 12 de abril de 2011

Álcool


Interessante como o álcool está presente em quase todas as culturas. Seja a vodka para os russos, saquê para japoneses ou cachaça para brasileiros. E não importa classe social (hehe, me lembro quando era um universitário liso e só bebia São Brás, cachaça, batida e afins). O álcool pode ser um bom companheiro, mas é bom lembrar que é você quem deve dominá-lo, não o contrário. Não respeitar seus limites é que o torna, por muitos, culpado de destruir lares e matar inocentes em acidentes de trânsito por exemplo.



Inconsciência etílica

As mazelas da vida o fazem chorar
E a sua consciência ele quer anular
Coragem quer ganhar para o que antes não faria
O vício que lhe atormenta em pleno raiar do dia

Enquanto a natureza apodrece e cria
O homem com sua sede vem e destila
Para o completo domínio e nostalgia de baco
Em todos os lugares nós temos o álcool

Beber uma dose só para o corpo esquentar
Beber mais algumas só para a corte realizar
Beber muitas outras para o problema esquecer
Continuar bebendo simplesmente por beber

Na inconsciência etílica navegar e voar
Para nas horas seguintes geralmente estar
Enojadamente regurgitando o líquido viscoso
Misturando em sua boca a saliva e o vômito
Lavando esse sistema com mais e mais álcool
Dormindo sobre os rejeitos a pouco liberados


O próximo eu dedico a um grande irmão. Para os momentos nos quais ele sabe a que me refiro.


Na taverna

Levante seu odre, ogre
Vamos brindar nesta noite tão esperada
Deixe no esquecimento essa batalha perdida
Mesmo que dela só tenha restado uma espada partida
Sua honra muito em breve será restaurada

Beba! Sinta o sabor e olhe para os lados
Aprecie essa majestosa canção dos bardos
Elfos, anões, gigantes e neandertais
A alegria dessa bebida nos faz todos iguais

Levante seu odre, ogre
Nem um só gole de vinho será desperdiçado
Vamos beber, brigar, gritar e sorrir
Quem não agüentar nessa taverna já pode cair
Na embriaguez tu estarás acompanhado

Uma gloriosa batalha nos espera
Tesouros nunca antes vistos nessa era
Na ansiedade dessa guerra eu brado num grito forte
Levante seu odre, ogre!

domingo, 10 de abril de 2011

Primeiro, e último.


Como esta é a primeira postagem, resolvi começar do começo (não diga...). Comecei a escrever esporadicamente há cerca de 10 anos, e acredito que este seja um dos meus primeiros poemas.



Círculo vicioso

Quem eu quero não me quer
Quem me quer eu não quero
Quem eu quero quer alguém
Que não lhe quer

O que quero os outros têem
O que tenho eu não quero
Os outros querem o que tenho
Ninguém tem o que quer

É insatisfação
É desgosto
Girando como esfera
Um círculo vicioso

Sem trégua nem descanso
Sem paradas nem remanso
Só gira sem parar
Um movimento sem cessar
É o giro que nos faz tolos
Círculo vicioso


Logo em seguida, vem algo mais recente, que demonstra como me sinto agora...

 
Tédio

Tédio
Nessa minha posição estática
Ouço palavras vomitadas de quem se diz sábio
Reproduzindo máximas num tom de puro plágio
Me pergunto se essa mente não teria origem plástica

Tédio
Tudo parece estar irremediavelmente parado
O próprio tempo aparenta estar congelado
E o que me faz acreditar que não estou hibernando
É essa nefasta inquietação gradualmente me incomodando

Tédio
Os mesmos lugares, as mesmas pessoas
Parecem clones oriundos de bipartição
O mesmo discurso, a mesma ideologia
O problema será comigo então?

Me levanto, bocejo e penso
Para isso não deve haver nenhum remédio
O que sinto não tenho dúvidas, é o mais puro e denso
Tédio